[HQ] LOBO SOLITÁRIO (KOZURE OKAMI)

Como conhecedor da saga completa do célebre épico, sinto um pouco de desconforto em colocá-lo na seção do fórum que se destina, aparentemente, aos “subprodutos” de Conan, mas heresia ainda maior é ignorar a importância desta obra e deixar de partilhar o básico conhecimento dela com os nobres colegas

Lobo Solitário (Kozurê Okami), escrito por KAZUO KOIKE e desenhado por GOSEKI KOJIMA é uma história parcialmente baseada em personagens e fatos reais: no século XVII durante o Shogunato TOKUGAWA, o último do japão que durou 250 anos, por volta de 1600 a 1867 (Shogum: ditador militar no comando do país) a família OGAMI que ocupa um importantissímo cargo entre os servidores reais, simplesmente desaparece do mapa.

KOIKE nos anos 70 explorou essa lacuna histórica criando os dois últimos foragidos da família: o demoníaco, exímio e obstinado samurai ITTO OGAMI que erra pelo Japão junto com o filho DAIGORO vendendo seus serviços de assassino profissional combatendo com sua mortífera Katana DOTANÚKI e os mais diferentes inimigos: ninjas, samurais, mercenários, ladrões, outros assassinos profissionais, em uma grande jornada em busca de vingança pelo assassinato de seu clã por outro clã rival (YAGYU), que o caça por todos os cantos do Japão sem piedade, criando o mangá e uma das histórias em quadrinhos mais importantes já criadas até então.



Nas suas cercas de 9 mil páginas, o samurai movimenta-se em uma rica descrição do Japão feudal e os diferentes estratos sociais que nele habitam (as poderosas famílias, os criminosos, os miseráveis, os camponeses, os ninjas, os samurais, as prostitutas.. etc), costumes e a cultura do último século feudal, abordando de forma bastante sensível e incitando profundos questionamentos no leitor; através da relação de pai e filho com a sociedade japonesa e os pontos de vista que estes têm dela. Virtudes e valores humanos nos seus diferentes aspectos da existência: violência, piedade, vingança, amor, devoção, honra, moral, caráter, vida e morte. Koike cria de forma poética e trágica na dramática jornada de aventuras enfrentadas por pai e filho, uma verdadeira lição de vida em cada história, realizando uma rara obra cativante e apaixonante da nona arte, impossível não se comover com a história do célebre LOBO SOLITÁRIO E FILHOTE.

A rasgação de seda por parte deste jornalista hiboriano não é gratuita: talvez as franquias de cinema, quadrinhos e tantas outras expressões de arte populares do ocidente talvez não tivessem sido as mesmas não fosse a introdução e popularização das histórias do samurai nos anos 80/90 pelas mãos do homem que salvou o Homem-morcego, FRANK MILLER.



Explico: quando ainda era um jovem escritor, um exemplar em japonês de KOZURE OKAMI caiu nas mãos de Miller que ficara muito impressionado com a arrojada e expressiva narrativa visual dos belos desenhos de Kojima mesmo sem entender uma vírgula da língua, e tratou de convencer sua editora a traduzir e publicar o material nos EUA, essa influência oriental foi decisiva na hora de remodelar e salvar a popularidade de Batman, que havia caído muito nos anos 80 e reergueu-se com o célebre CAVALEIRO DAS TREVAS de Miller, que contém muito do estilo do mangá, o mesmo que marcaria para sempre as obras de Miller e porventura os tantos escritores e cineastas que se inspiraram com seu trabalho até hoje através de suas consagradas histórias e criações: RONIN (óbvia homenagem), SIN CITY, ROBOCOP, 300 DE ESPARTA, DEMOLIDOR, ELEKTRA, etc.

Alguns exemplares de LOBO SOLITÁRIO foram publicados no Brasil pela editora NOVA SAMPA nos anos 80, e continham os prefácios originais de Frank Miller, mas por aqui duraram poucos números, há poucos anos, mesmo contando com um público muito seleto, a PANINI COMICS jurou publicar mesmo com as poucas vendas toda a saga no Brasil, a um preço bem salgado para compensar, mas cumpriu a promessa.
E depois de décadas de espera, testemunhei com emoção o dramático desfecho da saga do samurai (já que é tradição de todo o mangá envelhecer naturalmente seus personagens e estabelecer um ponto final em cada história, diferente dos quadrinhos ocidentais, onde personagens de mais de 50 anos de idade como os da Marvel e DC não morrem nem envelhecem nunca)

Primeira edição da PANINI de 2004 (Estendeu-se ao longo de 28 números com 300 páginas cada tomo)


Edição da extinta NOVA SAMPA


As histórias do Lobo ainda ganharam 6 filmes japoneses, baseados em capítulos do mangá, estrelados pelo ator TOMISABURO WAKAYAMA, 4 peças de teatro e um seriado que chegou a passar no canal SBT
Abaixo, algumas screens