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Conan e os Pictos - Muito Além do Rio Negro Empty Conan e os Pictos - Muito Além do Rio Negro

Qui Abr 26, 2012 11:06 am
INTRODUÇÃO

Este curto conto de Conan entre os pictos procura detalhar a aventura vista em flash-back no conto “O Estrangeiro Negro”, disponível neste site.

Para mim, escrever este conto foi um desafio pessoal, já que o estilo que resolvi empregar é a narração na primeira pessoa, feita pelo próprio Conan, já como monarca da Aquilônia.

Escrever assim é mais difícil do que parece, pois a atenção deve ser maior nas conjugações verbais e na descrição de fatos e paisagens; e ainda passar a impressão de que tem realmente alguém falando para você.

Espero que você aprecie estas meras linhas de distração do mesmo jeito que apreciei escrevê-las.

Abaixo segue um resumo da fase de Conan entre os pictos, extraído da Cronologia de Conan.




“Apenas o Forte Tuscelan oferece proteção aos colonos da região da Terra dos Pictos conhecida como Conajohara, situada entre o Rio Trovão e o Rio Negro. Conan salva a vida de um jovem colono chamado Balthus, e logo se vêem enfrentando um demônio da floresta a serviço do mais poderoso dos xamãs pictos, Zogar Sag (A Fronteira do Fim do Mundo/ESC 14).


Após várias emboscadas e capturas, a dupla se vê perseguida por feras selvagens que servem a Zogar Sag; Conan espanta os animais com o antigo sinal de Jhebbal Sag, o qual aprendeu anos atrás. Ele tenta alertar o forte, mas este já está sob ataque e condenado. Conan deve finalmente matar tanto Zogar Sag quanto o demônio da floresta, que é um filho de Jhebbal Sag, buscando se vingar do Cimério por este ter usado o símbolo. Balthus é morto pelos pictos, e Conan promete matar dez pictos em retribuição (Os Filhos de Jhebbal Sag/ESC 15).






CONAN E OS PICTOS – MUITO ALÉM DO RIO NEGRO
(por Osvaldo Magalhães)

Fonte: http://cronicasdacimeria.blogspot.com.br/2008/03/conan-e-os-pictos-muito-alm-do-rio.html
EU SOU CONAN, UM CIMÉRIO, e já fui um bárbaro errante pelas terras hiborianas; um soldado-da-fortuna em busca de aventuras, mulheres e ouro, muito ouro. Hoje, quando o peso de todos esses anos se faz presente, eu sou um rei. Mas não o rei de um reino qualquer desta época e sim o rei da Aquilônia, a maior e mais orgulhosa nação dos meus dias.

Durante quase duas décadas e meia, eu caminhei por muitos países e fiz minha fama ao custo de muito sangue. Minha trajetória, desde que abandonei as colinas geladas da Ciméria, a minha terra natal, foi acompanhada pelos sábios cronistas da Nemédia; e a Nemédia é um reino de posição relevante, encravado no meio do mundo hiboriano.

A minha saga é muito conhecida por meus súditos e por muitos reis e nobres desta época; mas existem histórias que ninguém conhece completamente; nem mesmo os cronistas nemédios ou meus próprios cronistas aquilonianos. Por isso eu estou aqui, na biblioteca real de Tarântia, sentado diante de minha escrivaninha, usando pena de pato para redigir as histórias que ainda faltam serem contadas.

Uma delas diz respeito à minha travessia através dos sertões pictos.

Eu cruzei o Rio Trovão para seguir um bando de incursores que estava pilhando a fronteira. Eu os segui até as profundezas dos sertões e matei seu líder, mas fui derrubado sem sentidos pela pedra de uma funda, durante a luta, e os cães me capturaram vivo. Eram homens do Clã do Lobo, mas eles me deram ao clã dos Águias em troca do chefe deles, que os Águias haviam capturado.

Os Águias me carregaram por quase mil e seiscentos quilômetros na direção oeste, para me queimarem na aldeia de seu líder, mas eu matei o chefe-de-guerra deles e mais uns três ou quatro, numa noite, e fugi. Para minha surpresa, encontrei homens civilizados na costa picta.

Mas essa outra história não interessa por enquanto; então, apesar de não ter o dom dos sábios nemédios para escrever, tentarei me ater à aventura entre os pictos. Perdoe-me se minha narrativa parecer enfadonha, pois é a primeira vez que me enveredo por esta trilha literária. E, é claro, estou mais acostumado a empunhar uma espada do que uma pena.

Então, vamos lá.

Depois de uma missão na Bossônia, tive que atravessar o vau do rio Trovão, que corria lânguida e sinuosamente para o sul. Em suas margens lamacentas, vi cervos e outros pequenos animais disputando espaço para beber da água limpa. Na margem Oeste, uma floresta de pinheiros estendia-se por milhas e milhas como uma coberta verde e brilhante. Pequenos e furtivos pássaros chilreavam nas coberturas das árvores, enquanto os raios do sol atravessavam obliquamente as folhagens alcançando fracamente as folhas em decomposição sobre o chão úmido.

Agora tinha atingido terras solitárias, onde não restava ninguém, nem estalagens, e as estradas ficavam cada vez piores. Não muito adiante havia montanhas desoladas, que subiam cada vez mais alto, cheias de árvores. Tudo parecia triste e desolado, pois naquele dia o tempo havia ficado ruim. Durante a maior parte do tempo, estivera tão bom como poderia estar, mas agora estava frio e úmido. Naquelas terras solitárias eu era obrigado a acampar, quando podia, mas pelo menos não chovera.

Em pouco tempo, porém, eu já estava chapinhando numa trilha muito lamacenta. Já passara do meio dia e chovia a cântaros, como chovera durante todo o restante do dia; do meu capuz pingavam gotas que entravam nos olhos, a capa estava cheia de água; Maldita chuva e tudo o que tem a ver com ela! Naquele dia eu gostaria de estar em uma taverna, ao lado do fogo, com um pernil começando a assar! Mas não foi a última vez que desejei tal coisa.

Ainda assim avancei, nunca me voltando para trás. Em algum ponto atrás das nuvens cinzentas o sol devia ter se posto, pois começou a ficar muito escuro quando desci um vale profundo em cujo leito corria um rio, cujo nome eu não sabia. O vento começou a soprar, e os salgueiros ao longo das margens curvavam-se e suspiravam. Por sorte a estrada passava por uma velha ponte de pedra, pois o rio, volumoso devido à chuva, descia em enxurrada das colinas e montanhas ao norte.

Já era quase noite quando atravessei a ponte. O vento rompeu as nuvens cinzentas e uma lua surgiu vagando sobre as colinas entre os chumaços flutuantes. Então parei e decidi achar um canto seco para dormir. Dirigi-me a um maciço de árvores e, embora estivesse mais seco embaixo delas, o vento derrubava a chuva das folhas, e o pinga-pinga era extremamente irritante. E também o azar parecia ter contaminado o fogo. Eu consigo fazer fogo em praticamente qualquer lugar, usando praticamente qualquer coisa, com ou sem vento; mas naquela noite não consegui.

Foi então que numa noite finalmente cheguei a Velitrium e fui procurar meu amigo Laodamas, que eu sabia estar morando numa mansão que ficava meio afastada da cidade.

Caminhei até a casa, olhei para um lado e para outro da rua e transpus rapidamente o portão. Minha atitude pode ter parecido suspeita, mas como não vi os guardas que normalmente protegem a casa, não quis arriscar uma armadilha. Assim, para evitar o cascalho, caminhei pela grama que crescia dos dois lados da entrada, atravessei o gramado e me escondi por trás das moitas de rododentros diante das janelas do que parecia ser um gabinete.

Não havia movimento na mansão, por isso avancei até a porta e rodei a maçaneta. A porta se abriu e entrei na sala. Escutei durante vários segundos, como um animal carnívoro à beira de um poço, sentindo o perigo que pudesse haver no ar. Não havia o menor ruído. Levei a mão até a cintura esquerda, tirei minha longa espada da bainha e comecei a abrir as portas que davam para o interior da casa.

Ao entrar em um dos quartos vi imediatamente um corpo estendido em um tapete, não me movi da porta entreaberta antes de haver examinado bem o resto do quarto. Já vira homens serem vítimas desse truque – a isca evidente e a emboscada oculta. Antes de entrar, olhei pela fenda entre as dobradiças da porta para ter certeza de que ninguém estava escondido atrás dela.

A pessoa estava caída de costas, com a cabeça pendente para o lado. Durante vários segundos, olhei para o rosto muito pálido e então me curvei para escutar a débil respiração. O sangue empastado na parte posterior da cabeça mostrava mais ou menos o que havia acontecido.

Aquele homem era Laodamas, meu amigo, e parecia estar morrendo. Foi aí que uns pictos bêbados, que já estavam na casa, me atacaram. Matei alguns, mas devido ao pouco espaço, saí daquela casa como uma raposa seguida por cães de caça. Montei em pêlos num cavalo, que graças a Crom estava no estábulo, e segui para o rio Trovão, já que o caminho para Velitrium estava barrado por vários selvagens. Mas os pictos me alcançaram não sei como e eu tive que rachar mais algumas cabeças. Eles derrubaram meu cavalo e eu tive que correr e saltar nas correntezas do Trovão com flechas zunindo em meus ouvidos. Mitra, aqueles cães lutavam como demônios loucos e eram muitos mesmo, diabos! Eu não gosto de fugir, mas não tive opção. Não havia dúvidas de que os pictos realmente haviam atacado Laodamas. E sabe, eu já fui chamado de “o herói de Velitrium”, quando liderei a vitória sobre os pictos na Batalha do Massacre dos Prados. Laodamas era quase um amigo e não podia deixar as coisas como estavam.

Estranhamente, os pictos desistiram de me perseguir. Talvez estivessem com medo de todo aquele rebuliço ter chamado a atenção de alguém, o que poderia atrair um destacamento militar. Assim, eu segui para a floresta que ficava muito além do descampado do rio Trovão na trilha dos pictos. A lua crescente subia cada vez mais e o vento soprava ruidoso e frio. Retorcia a névoa branca, transformando-a em colunas encurvadas e nuvens apressadas, e a conduzia para Oeste, espalhando-a em fiapos sobre os pântanos diante da floresta.

Enquanto avançava, olhei de um lado para o outro procurando algo para comer; mas as amoreiras estavam apenas em flor, e é claro que não havia nozes, nem mesmo frutinhas de espinheiro. Mordisquei umas folhas de azedinha, bebi de um pequeno riacho da montanha que cruzava a trilha, e comi três morangos silvestres que encontrei na margem, mas não adiantou muito. Eu ainda estava com fome.

Mas a noite já estava terminando, e no Oeste a lua crescente descia, brilhando vacilante por entre as nuvens que se desmanchavam. Mas os rastros dos pictos, embora quase que apagados, ainda podiam ser seguidos.

Continuei avançando. A trilha acidentada desapareceu. Os arbustos, e o capim alto entre os rochedos, os trechos de relva tosada pelos coelhos, o tomilho, a sálvia e a manjerona, as estevas amarelas, todos desapareceram, e me vi no topo de uma encosta larga e íngreme, de pedras soltas, os restos de uma avalanche. Comecei a descer até o fundo do vale e adentrei um bosque de pinheiros que naquele trecho subia a encosta da montanha, vindo das florestas mais escuras e profundas do vale lá embaixo.

Nisso, o sol já se escondera atrás das montanhas havia muito tempo. As sombras já se adensavam ao meu redor, embora, na distância, por entre as árvores e sobre as copas negras das que cresciam mais abaixo, ainda pudesse ver as luzes do entardecer nas planícies além. Fui avançando com dificuldade, tão rapidamente quanto podia, pelas encostas suaves de um bosque de pinheiros, numa trilha oblíqua, que seguia sempre para o Oeste. Às vezes abria caminho através de um mar de samambaias com frondes altas, erguendo-se acima da minha cabeça; às vezes eu avançava com o maior silêncio sobre um leito de agulhas de pinheiros; e a cada momento a escuridão da floresta ficava mais pesada e o silêncio mais profundo. Naquela noite não havia vento que trouxesse sequer um suspiro aos ramos das árvores.

A escuridão se adensou. Por entre as árvores que estavam atrás e adiante eu podia ver uma névoa, que também se formava nas margens pálidas do rio Negro, lá embaixo, embora o céu estivesse limpo. As estrelas apareceram. A lua movia-se no Oeste, e as sombras das árvores eram negras.

Algum tempo depois de ter atravessado o baixio do rio Negro, cheguei de repente a uma clareira onde não crescia nem uma árvore. A lua estava alta e brilhava na clareira. De alguma forma, tive a impressão de que aquele não era um bom lugar, embora não se visse nada de errado.

De repente, ouvi um uivo colina abaixo, um uivo longo e assustador. Foi respondido por outro à direita, muito mais próximo; depois, por outro, não muito longe, à esquerda. Não eram lobos uivando para a lua, eram pictos se juntando! Devem ter percebido que eu os seguira.

Entendi que não adiantava correr e me amaldiçoei por não ter percebido antes que estava sendo enganado. Mas talvez tudo não tenha passado de uma coincidência... alguma brincadeira de Crom.

De espada em punho eu aguardei e logo vi os odiados pictos se aproximando.

Os pictos atarracados ficaram algum tempo em silêncio, como se estivessem em dúvida se me atacavam com flechas ou com machadinhas. Afinal, ali havia um cimério para eles matarem, e isso não acontecia todo dia. Enquanto eles me observavam, o vento soprava naquela clareira negra e a grande lua voltou a surgir por entre as nuvens escuras que tinham aparecido. Nisso, a escuridão arrefeceu-se um pouco.

Depois de um momento de hesitação, atacaram com suas machadinhas. Foi aí que a pugna começou.

Na garganta de um picto corpulento, enterrei minha espada; com um grande impulso, decepei a cabeça de um outro. Acho que devia ser um chefe, porque os pictos uivaram feito loucos e me atacaram com uma ferocidade ainda maior. Eu estava lutando com vigor e felicidade, como sempre, e acho que poderia ter levado a melhor se a pedra de uma funda não tivesse me derrubado durante a luta. Assim, os pictos me pegaram vivo. E isso não era bom.

Quando acordei, me achei pendurado pelas mãos e pés amarrados em um galho, tal qual uma ave quando a colocamos para assar.

Os pictos que me haviam capturado eram do Clã do Lobo. Estranhamente, eles não olhavam para mim; e logo descobri por que. Eles seguiram para um local de reunião, onde pictos do clã da Águia aguardavam.

Ali, na hora quieta e fria que antecede a aurora, os Lobos me trocaram por um chefe deles que era cativo dos Águias. E como os Águias tinham uma antiga rixa comigo, dos tempos em que eu era batedor em Conajohara, não hesitaram em me levar.

Ainda dependurado, segui entre os pictos que andavam em fila única. Chegamos a uma trilha cuja entrada era como uma espécie de arco que conduzia a um túnel sombrio e era formada por duas grandes árvores que se inclinavam uma em direção à outra, por demais antigas e por demais estranguladas pela hera e cobertas de liquens para poderem suportar mais do que algumas folhas enegrecidas. A própria trilha era estreita e serpenteava em meio aos troncos. Logo depois, a luz na entrada era apenas um pequeno buraco brilhando lá atrás e o silêncio era tão profundo que os pés dos pictos pareciam retumbar no chão, enquanto todas as árvores se debruçavam para escutar.

À medida que meus olhos se acostumavam à escuridão, conseguia enxergar, até certa distância dos dois lados da trilha, um vislumbre de luz verde e escurecida. Às vezes um fino raio de sol, que tivera a sorte de penetrar através de alguma abertura nas folhas lá em cima, e ainda mais sorte por não ficar preso nos galhos emaranhados e nos arbustos entrelaçados embaixo, cortava o ar, tênue e claro diante de nós. Mas isso era raro, e logo cessou por completo.

Havia animais na floresta. À medida que meus olhos agudos e inquisitivos acostumavam-se a enxergar as coisas, conseguia vê-los de relance, passando ligeiros pela trilha e escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Também havia ruídos estranhos, grunhidos, passos arrastados e correrias na vegetação rasteira e entre as folhas que em certo ponto empilhavam-se em inúmeras camadas no chão da floresta; mas o que causava os ruídos eu não conseguia ver. O ar não se movimentava sob o teto da floresta, era eternamente parado, escuro e abafado.

Depois de uns três dias de marcha, com a paisagem quase nunca se alterando, chegamos a uma região onde a maioria das árvores eram faias. Ao nosso redor havia uma luz esverdeada, e em alguns trechos eu conseguia enxergar até certa distância dos dois lados da trilha por que passávamos. Mesmo assim, a luz mostrava-me apenas fileiras intermináveis de troncos cinzentos e retos, como os pilares de algum enorme salão ao crepúsculo. Havia um sopro de ar e barulho de vento, mas o som era triste. Algumas folhas caíam farfalhando fora. Os pés dos pictos afundavam nas folhas mortas trazidas pelo vento dos espessos tapetes rubros da floresta para as margens da trilha.

Finalmente, depois de mais dois dias de marcha em direção ao Oeste eu vi que a trilha começava a descer, e logo estávamos num vale quase que inteiramente coberto por uma vigorosa mata de carvalhos.

Nessa mata havia um grupo de pictos do clã dos Águias.

Os Águias, por sua vez, me carregaram por quase mil e seiscentos quilômetros na direção oeste, para me queimarem na aldeia de seu líder.

Adentramos a aldeia e uma multidão de pictos se juntou ao nosso redor. As mulheres e as crianças jogavam pedras em mim. Mas permaneci calado, pois sabia que o pior ainda estava por vir, já que era um costume entre os pictos arrancar a pele dos cativos ainda vivos.

Colocaram-me de pé, finalmente, e senti a agonia da circulação que voltava aos meus membros. Poucas foram as vezes, durante a travessia na floresta, que os pictos me permitiram um descanso sem estar pendurado. Acho que não queriam arriscar que eu morresse devido à falta de circulação do sangue.

Enquanto estava ali me recuperando, o chefe de guerra dos pictos surgiu diante de mim.

Fiquei amarrado diante dele e o picto fixou o olhar em mim, enquanto os músculos fletiam. Deu um grito gutural e, saltando como um felino, agarrou-se a minha garganta.

Crom, amarrado como estava, eu levei uma surra das boas, porque mais alguns pictos se juntaram à farra. Mas acho que quebrei um ou dois narizes pictos durante a confusão.

Depois da diversão, me jogaram em uma choupana, onde permaneci enclausurado.

Acho que fiquei preso umas três noites e três dias pelo menos; e pela conversa que eu conseguia entender dos pictos que ocasionalmente passavam por perto, eu estava sendo mantido vivo para a próxima noite de lua cheia, quando seria sacrificado a Gullah, o deus-gorila deles que vive na lua.

O mundo e o próprio tempo não faziam mais sentido para mim. A única realidade parecia ser a escuridão interminável. De quando em vez davam-me comida. Na maioria das vezes uma papa verde e gosmenta que eu não conseguia identificar.

Mas uma noite eu consegui soltar minhas amarras, me aproximei do vigia que dormitava e quebrei o pescoço do infeliz com uma só torção. Mas a minha sorte só foi até aí, porque uma cambada de pictos estava chegando e foi então que eu percebi a lua cheia e grande no céu. Crom, eles estavam vindo para me levar ao sacrifício. Mas eu estava com muito ódio naquela noite; peguei a lança caída do picto que eu havia matado e arremessei contra dois deles que estavam à frente. Matei os dois num só arremesso e nem esperei para vê-los cair empalados. Virei-me e corri em direção à paliçada. Foi então que o chefe de guerra e mais alguns outros apareceram na minha frente e eu me lancei, desarmado, sobre eles. Na confusão eu consegui uma faca e a enterrei até o cabo no peito do chefe picto. Os outros estavam uivando feito loucos e gritavam por reforços, e eu não hesitei em rachar mais algumas cabeças com a machadinha que tomei do chefe morto.

Eu poderia ter fugido naquele instante, mas o ódio que sinto pelos pictos é muito antigo – e isso já é uma herança herdada de meus antepassados cimérios – por isso continuei a lutar. Eu queria enviar o máximo daqueles piolhentos para o inferno antes de escapar dali. E, como aquela aldeia não era tão grande – ao menos não tanto quanto Gwawela, que fica mais ao sul, próxima às margens do rio Negro –, eu consegui fazer um bom estrago com tochas disponíveis, ateando fogo nos telhados de sapê enquanto corria feito um louco por entre as choupanas.

No entanto, como já dizia meu velho pai, Corin, um picto bom é um picto morto. E eu não deveria esquecer esse bom conselho, porque um maldito demônio pintado, um dos que eu já havia derrubado antes, se arrastou por trás de mim e enterrou uma faca em minha coxa. Então eu arrebentei a cabeça do infeliz, para ter certeza de que ele estava morto. Nunca subestime um picto caído, porque eles são ótimos em fingir-se de mortos, por isso mate-o mais de uma vez, se for possível, e se não tiver certeza de que ele está realmente morto, mate-o de novo.

Mas, finalmente, no meio de todo aquele tumulto e correria eu consegui saltar a paliçada e mais uma vez adentrei a floresta continuando para o leste já que não podia voltar. De todos os lados os troncos mucosos de árvores escuras se retorciam para impedir minha passagem. Aqui e ali eu podia vislumbrar colunas níveas de luz lunar forçando passagem pela panóplia de galhos e folhas.

Foi então que surgi numa campina e logo à frente vislumbrei uma imensidão paludosa repleta de turfas. Eu não podia avançar por ali; então me dirigi para o norte.

Nessa direção havia pedras em abundância que prenunciavam as penhas e outeiros que eu teria de atravessar.

Eu não podia ouvir os pictos me seguindo, mas eu sabia que eles estariam logo em meu encalço... às centenas quando raiar o dia. Eles podem farejar minhas pegadas horas e horas depois de ter passado. Eu precisava estar muitas milhas à frente antes do nascer do sol. Mas enquanto isso havia um pouco de lua, se o tempo continuasse bom, e isso é sorte, porque ela me dará um pouco de luz para que eu possa me guiar.

Quando o dia surgiu, o sol me encontrou correndo pelos sertões pictos e, quando ele começou a morrer no Oeste, voltei a ouvir o uivo dos lobos... lobos pintados e com machadinhas nas mãos.

Depois disso, os malditos Águias me caçaram tão de perto pela floresta, que eu mal tive tempo para comer as nozes e raízes que achava. Às vezes, eu pegava rãs e as comia cruas, pois eu não ousava acender uma fogueira.

Eu fui alcançado após dois dias, mas consegui me refugiar em uma rocha sagrada para os pictos e os cães desistiram de mim.

É nesse ponto que começa a minha aventura sobre o Tesouro de Tranicos, mas essa é uma outra história que contarei no devido tempo.

Agora eu preciso ir, já ouço minha querida Zenobia chamando por mim e, Crom me carregue, se algum dia eu deixar os carinhos dela para ficar sentado aqui escrevendo!
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